Abro o Linkedin e me deparo com artigos perfeitamente escritos. Títulos que usam as melhores técnicas de copywritting, textos escritos de acordo com as regras típicas da jornada do herói, seguidos de uma conclusão comovente, acompanhada de uma call to action. No Instagram, dicas de como ter muitos seguidores, como perder a vergonha de gravar vídeos, como faturar uma quantidade enorme de dinheiro em poucos dias, como fortalecer sua marca pessoal e a importância de estar atento às tendências. Uma das tendências é a rede social concorrente, que todo mundo quer exaltar, apenas para dizer que viu primeiro. Lá, no Tik Tok, vídeos que nos iludem a pensar que a vida é fácil e que qualquer transformação pode ser feita em no máximo 30 segundos.
Enquanto isso, vejo também vários profissionais qualificados se desesperando porque não têm muitos seguidores ou porque estão desatualizados e não sabem as técnicas para vencer no cruel mundo das redes sociais. Vejo pessoas adoecendo, por acharem que não são boas o suficiente, rápidas o suficiente, ou incríveis o suficiente. Pessoas sofrendo, morrendo de inveja de vidas que estão cheias de filtros e edições.
Pessoas sofrendo, morrendo de inveja de vidas que estão cheias de filtros e edições.
Quando foi que passamos a nos preocupar mais com quantidade do que qualidade? O mundo parece dividido entre dois tipos de pessoas: as que têm muitos seguidores e as que pagam para ter; as que vendem cursos online e as que compram; as que têm a fórmula mágica e as que gostariam de ter.
Nos tornamos especialistas em saber quase nada de muita coisa. Estamos o tempo todo conectados, acompanhando as últimas notícias, sem nos aprofundar de verdade sobre nenhuma delas. Nos tornamos uma geração imediatista, que se sente fracassada quando não vê o número de likes bombar logo depois da primeira hora da postagem. Estamos procurando desesperadamente a receita de sucesso, que ironicamente, é fornecida por um monte de gente que não a encontrou de verdade. Afinal, se alguém tivesse encontrado a receita do sucesso, não estaria dividindo-a com os outros e sim usando-a para ganhar muito mais (e não me venha com essa história de que a pessoa é altruísta e por isso decidiu compartilhar).
Nos tornamos especialistas em saber quase nada de muita coisa. Uma geração imediatista, que se sente fracassada quando não vê o número de likes bombar logo depois da primeira hora da postagem.
Sucesso é uma medida relativa. Sempre e foi e sempre vai ser. Mas, por algum motivo, estamos nos deixando convencer que ele é medido pelos números de likes, seguidores, ou o tamanho de sua conta bancária. O mundo está cheio de pessoas que não têm perfil em nenhuma rede social, mas ainda assim acordam felizes e realizadas todos os dias. Quando foi que as coisas mudaram? Como foi que as redes sociais ficaram tão chatas? Quando eu e você permitimos que fosse assim.
Eu tenho esperanças de que iremos acordar dessa alucinação e começar a perceber que está ridículo escrever sem autenticidade, seguindo as regras que alguém disse que eram as certa. Vamos nos cansar dos gatilhos mentais, parar de curtir por impulso e começar a questionar os especialistas que nunca estudaram nada. Vamos parar de permitir que um número defina o tipo de profissionais e pessoas que somos. E, enquanto isso não acontece, espero que consigamos sobreviver a essa loucura que nós mesmos criamos.
Vamos parar de permitir que um número defina o tipo de profissionais e pessoas que somos.
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