Você tem vontade de abrir um negócio, mas quando pensa que precisa alugar e reformar um ponto comercial, pagar pelo desenvolvimento da marca, criar um site, contratar funcionários e ainda ter um capital de reserva, o sonho começa a parecer distante demais? Isso acontece porque você, como a maioria das pessoas, quer empreender em uma situação ideal, seguindo um plano que parece lógico: identificar uma oportunidade de negócios, avaliar a oportunidade, redigir um plano de negócios, ter um ponto comercial, abrir um CNPJ, contratar a equipe, fazer a primeira venda.
O problema desse plano é que poucas pessoas se encontram nessa situação ideal para abrir um negócio. Na prática, o processo acontece de formas bem diferentes. Tenho certeza de que você conhece pessoas que fizeram a primeira venda e só depois de anos decidiram se formalizar. Outras que começaram o negócio porque não tinha outra forma de sobreviver e outras que iniciaram quase que por acidente. Existem também as que sempre quiseram empreender, mas que nunca conseguiram fazer isso (talvez essa pessoa seja você). Por isso, ao invés de ficar esperando a situação ideal para abrir seu negócio, você precisa começar hoje, com o que você tem.
O que você tem para começar seu negócio hoje? Faça uma lista do que você sabe fazer, dos conhecimentos e habilidades que já tem. Liste também quem são as pessoas que poderiam te ajudar, de todas as formas possíveis, desde te apresentar possíveis clientes a ensinar o que já aprenderam. Inclua na lista os recursos que você tem, nem que seja apenas o seu celular. Comece seu negócio com o mínimo.
Ao pensar em começar o negócio com o mínimo, você inverte o pensamento comum. Ao invés de pensar “de quanto eu preciso para começar esse negócio?” você vai começar a pensar “quanto eu estou disposto a perder se tudo der errado?”. Essa lógica, proposta pela Sarah Sarasvathy, após entrevistar empreendedores de sucesso no mundo todo, pode parecer pessimista, mas na verdade é isso que garante que você comece pequeno, faça testes e cresça de forma consistente.
Eu já vivenciei as duas formas de pensar. Quando abri meu antigo restaurante de comida japonesa, pensei em tudo que precisava para começar um negócio e formulei meu plano. Aluguei o ponto, fiz uma reforma caríssima, incluindo porcelanato de R$250/metro e uma fachada imponente. Tudo parecia perfeito e ideal para atrair os clientes. O problema é que o plano incluía uma versão idealizada de como os cliente se comportariam e não a versão real. Como diz Steve Blank, o plano de negócios morre no primeiro contato com o cliente. As minhas suposições sobre os clientes se provaram erradas e eu precisei gastar muito dinheiro para convencê-los a frequentar meu restaurante, já que o modelo de negócios era diferente do que eles conheciam (servíamos combos e não festival japonês ou comida por quilo, como era o comum lá em 2012).
Já quando fundei a Sempreende, em 2017, depois de aprender com meus erros e estudar muito sobre empreendedorismo, a lógica foi diferente. Nós realmente começamos com o mínimo. Primeiro criamos o perfil no Instagram, ainda sem logomarca ou um tipo de conteúdo definido. Fizemos testes com diferentes formatos de artes e conteúdos para entender o que o público queria ver. Nosso primeiro curso aconteceu em uma sala emprestada. Definimos que poderíamos gastar no máximo R$200 com o primeiro teste. Esse era o valor que estávamos dispostos a perder. Somente depois de entender o mercado, fazer inúmeras entrevistas e grupos focais com clientes, fazer cursos teste é que montamos nosso espaço físico (que começou pequenininho e depois dobrou de tamanho).
Ao definir o quanto estávamos dispostos a perder, garantimos que os testes aconteceriam gastando o mínimo, sem cair na tentação de buscar a situação ideal. Talvez, se estivéssemos juntando o dinheiro para abrir uma grande sede, com 16 cursos todo mês, a Sempreende não teria começado até hoje. Como fizemos o contrário, conseguimos chegar longe em pouco tempo, mas de forma consistente, sem dar um passo maior do que podíamos.
Por isso, eu recomendo que você comece com o mínimo e faça testes. Nós usamos o Instagram e entrevistas presenciais com clientes para isso. Você pode fazer o mesmo ou usar ferramentas que tenham a ver com seu negócio. Existem vários sites e aplicativos que permitem criar protótipos (como Marvel App), ferramentas como Wix que permitem que você mesmo crie seu primeiro site ou até uma lojinha online e o Canva que te permite criar suas próprias artes.
No início, não gaste dinheiro com logomarca, loja física e outras coisas, porque tudo pode mudar. Suponha que nós tivéssemos descoberto que ninguém gostava do nome Sempreende. Como ainda não tínhamos logo ou registro da marca, faríamos essa alteração rapidamente, sem apego. Se fosse o contrário, ficaríamos apegados, com medo ou com dó de renunciar ao que já tínhamos gastado tempo e dinheiro para criar.
Vale lembrar que nossos testes foram feitos em 1 mês e meio. Ou seja, você precisa testar e aprender rapidamente, e não ficar anos esperando ter resultados. Você também precisa estar completamente aberto aos feedbacks e ouvir (de verdade) o mercado, para saber o que seus clientes desejam. Não existe uma fórmula mágica para o sucesso, mas quando se trata de empreender, começar com o mínimo, testar e aprender rapidamente, certamente vão te deixar mais perto de prosperar. E ai, o que você tem para começar hoje?
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